:: Nossa utopia urbana ::

quinta-feira, 3 de maio de 2007

[Enquanto isso...]

Brasília - 2 milhões de reais liberados para compra de 35 carros para o Legislativo. (fonte: http://diariodeumpm.net/2007/03/23/ser-policial-em-fairfield-e-diferente/)

Rio de Janeiro - 2 policiais assassinados em Oswaldo Cruz, em trabalho. O carro em que eles estavam foram metralhados. Um carro todo descacarecado, rádio ferrado, enfim... ridículo.

Até quando?

terça-feira, 17 de abril de 2007

[Quinze anos]

Puxava uma carroça cheia de papelão, mas, no mais, era uma menina como qualquer outra. Talvez pensassem que por ser pobre ela poderia ser diferente, mas não era nem um pouco: ela queria as mesmas coisas que todas as outras meninas queriam.

Tinha vontade de ser estrela de televisão, modelo, bailarina ou professora. Vontade de alisar o cabelo e comprar uma roupa daquelas de vitrine de loja. Queria acabar o segundo grau e ganhar um anel de presente de formatura. Poderia nem ser de ouro, mas tinha de ser dourado.

Também, como qualquer menina, tinha vergonha dos meninos. Tinha um lá no bairro que sempre a olhava de longe. Num domingo ela o viu jogando bola com os outros garotos e achou que ele era o melhor jogador do mundo. Ficou ali, quietinha, torcendo para ele fazer um gol, um gol só para ela.

E hoje, bem hoje, a menina fazia quinze anos. Desde o ano passado sonhava com uma festa: via-se dançando com um príncipe, imaginava as amigas segurando arranjos de flores e uma mesa cheia de bolo e refrigerante. Sorria toda vez que imaginava o pai de terno e sapato, achava a idéia engraçada.

Já de noite, a cidade — e as latas de lixo — começou a ficar vazia: hora de voltar para casa. Ela sabia que as bancas estariam fechadas, mas passou em frente ao mercado de flores, só porque era bonito. E de longe viu alguma coisa numa lata de lixo, uma coisa branca. Surpresa!, era um buquê de margaridas. Um pouco murchas, mas, mesmo assim, eram as mais lindas flores que ela jamais ganhara. Aliás, as únicas flores que ela jamais ganhara. Passou pela praça e viu que a catedral já estava enfeitada para o Natal. Ficava tão linda, tão brilhante com aquelas luzes todas. Um pipoqueiro ouvia música no radinho de pilha. Era uma música bonita, como as que o avô dela ouvia quando vivo. A menina ficou ali, escutando, e, já que ia sobrar mesmo, ganhou do pipoqueiro um pacotinho: pipoca doce, com coco.

Foi quando chegou na praça o menino do futebol, aquele que ficava olhando de longe. Ele baixou os olhos, tímido, sorriu e disse um “oi” envergonhado. Comentou do tanto de papel que tinha conseguido no mês e disse que, olha só, ele ficou sabendo que hoje era aniversário, juntou um dinheirinho e comprou um presente. Tirou do bolso um pacotinho de papel vermelho e entregou à menina. Teve a impressão de que as mãos dela tremiam.

A menina sorriu ao ver, dentro do pacotinho, um anel dourado. Agradeceu um tanto envergonhada e já logo o colocou no dedo. Deu certinho. O anel não caberia em outra mão que não a dela. Ela sorriu e mais balbuciou que falou um “obrigada”. O menino chutou umas pedrinhas do chão e comentou algo sobre a música, que ele achara tão bonita.

E, enquanto os sinos da catedral soavam as horas, os dois dançaram ao som do radinho sob as luzes brilhantes. Margaridas, pipoca doce, música, sinos, um anel e um príncipe, o melhor jogador de futebol do mundo. E a menina soube, lá no fundo, que Deus existia e que Ele havia lhe dado uma festa de quinze anos.

Retirado do blog
http://acepipesescritos.blogspot.com/

sexta-feira, 13 de abril de 2007

[Cidade partida]

Terminei de ler essa semana o livro de Zuenir Ventura, Cidade Partida. Nele, o autor discorre sobre os 10 meses que ficou frequentando a favela de Vigário Geral, nos idos de 1993.

Fala sobre a chacine que lá aconteceu, sobre a antiga rivalidade entre Vigário Geral e Parada de Lucas, tráfico de drogas, criação do Viva Rio...

E, em falando em Viva Rio, fala sobre as medidas pra combater a violência. E já naquela época se falava em planos mirabolantes para acabar com ela. Isso em 1994. Estamos em 2007.

Aí, lendo jornal diariamente, vejo as notícias e me bate um puta desânimo. Se passaram 13 anos e a coisa continua feia. Aliás, pior. Até porque hoje em dia os requintes de crueldade estão em quantidade maior.

Até quando?

quarta-feira, 11 de abril de 2007

[Cartola]


Cartola, compositor, mangueirense, até a 3ª séria cursada, suburbano... e o documentário sobre a sua vida está em exibição em salas de Botafogo, Barra (não, não no Barra Shopping), Ipanema...

E a Zona Norte? Acho que, tirando Guadalupe, nenhuma sala mais do subúrbio exibe o documentário. É revoltante. Será que o povo suburbano não merece ver tal obra? Será que o próprio povo de Cartola não tem esse direito? Lamentável.

A Cultura é restrita apenas á Zona Sul? Aqui na Zona Norte só pode ser exibido "filme pipoca"?
E por falar em Mangueira, seu presidente afirmou que está decidindo entre 3 enredos para 2008, todos patrocinados. Nada de Cartola sendo homenageado pela Mangueira. O compositor estaria completando 100 anos e não receberá nenhuma homenagem. A Mangueira, 80. E nada de homenagens.

Só pra constar, Cartola deve ser o enredo da Império da Tijuca (Grupo de Acesso A) e Paraíso do Tuiuti (Grupo de Acesso B).

segunda-feira, 9 de abril de 2007

[Farra dos sacos plásticos]

O texto é grande, mas quem tiver um tempinho, vale a pena ler. Faz parte daqueles ítens de "faça cada um a sua parte".

Se você é individualista e acha que não vai conseguir mudar nada no mundo, é melhor nem ler.

O autor é André Trigueiro.

O Brasil é definitivamente o paraíso dos sacos plásticos*. Todos os supermercados, farmácias e boa parte do comércio varejista embalam em saquinhos tudo o que passa pela caixa registradora. Não importa o tamanho do produto que se tenha à mão, aguarde a sua vez porque ele será embalado num saquinho plástico. O pior é que isso já foi incorporado na nossa rotina como algo normal, como se o destino de cada produto comprado fosse mesmo um saco plástico. Nossa dependência é tamanha, que quando ele não está disponível, costumamos reagir com reclamações indignadas.
Quem recusa a embalagem de plástico é considerado, no mínimo, exótico. Outro dia fui comprar lâminas de barbear numa farmácia e me deparei com uma situação curiosa. A caixinha com as lâminas cabia perfeitamente na minha pochete. Meu plano era levar para casa assim mesmo. Mas num gesto automático, a funcionária registrou a compra e enfiou rapidamente a mísera caixinha num saco onde caberiam seguramente outras dez. Pelas razões que explicarei abaixo, recusei gentilmente a embalagem.
A plasticomania vem tomando conta do planeta desde que o inglês Alexander Parkes inventou o primeiro plástico, em 1862. O novo material sintético reduziu os custos dos comerciantes e incrementou a sanha consumista da civilização moderna. Mas os estragos causados pelo derrame indiscriminado de plásticos na natureza tornou o consumidor um colaborador passivo de um desastre ambiental de grandes proporções. Feitos de resinas sintéticas originadas do petróleo, esses sacos não são biodegradáveis e levam séculos para se decompor na natureza.
Usando a linguagem dos cientistas, esses saquinhos são feitos de cadeias moleculares inquebráveis, e é impossível definir com precisão quanto tempo levam para desaparecer no meio natural .No caso específico das sacolas de supermercado, por exemplo, a matéria-prima é o plástico filme, produzido a> partir de uma resina chamada polietileno de baixa densidade (PEBD). No Brasil são produzidas 210 mil toneladas anuais de plástico filme, que já representa 9,7% de todo o lixo do país. Abandonados em vazadouros, esses sacos plásticos impedem a passagem da água retardando a decomposição dos materiais biodegradáveis e dificultam a compactação dos detritos.
Essa realidade que tanto preocupa os ambientalistas no Brasil, já justificou mudanças importantes na legislação - e na cultura - de vários países europeus. Na Alemanha, por exemplo, a plasticomania deu lugar à sacolamania (cada um levando sua própria sacola).
Quem não anda com sua própria sacola a tiracolo para levar as compras é obrigado a pagar uma taxa extra pelo uso de sacos plásticos. O preço é salgado: o equivalente a sessenta centavos a unidade. A guerra contra os sacos plásticos ganhou força em 1991, quando foi aprovada uma lei que obriga os produtores e distribuidores de embalagens a aceitar de volta e a reciclar seus produtos após o uso. E o que fizeram os empresários? Repassaram imediatamente os custos para o consumidor. Além de antiecológico, ficou bem mais caro usar sacos plásticos na Alemanha.
Na Irlanda, desde 1997 paga-se um imposto de nove centavos de libra irlandesa por cada saco plástico. A criação da taxa fez multiplicar o número de irlandeses indo às compras com suas próprias sacolas de pano, de palha, e mochilas. Em toda a Grã-Bretanha, a rede de supermercados CO-OP mobilizou a atenção dos consumidores com uma campanha original e ecológica: todas as lojas da rede terão seus produtos embalados em sacos plásticos 100% biodegradáveis. Até dezembro deste ano, pelo menos 2/3 de todos os saquinhos usados na rede serão feitos de um material que, segundo testes em laboratório, se decompõe dezoito meses depois de descartado. Com um detalhe interessante: se por acaso não houver contato com a água, o plástico se dissolve assim mesmo, porque serve de alimento para microorganismos encontrados na natureza.
Não há desculpas para nós brasileiros não estarmos igualmente preocupados com a multiplicação indiscriminada de sacos plásticos na natureza. O país que sediou a Rio-92 (Conferência Mundial da ONU sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente) e que tem uma das legislações ambientais mais avançadas do planeta, ainda não acordou para o problema do descarte de embalagens em geral, e dos sacos plásticos em particular.
A única iniciativa de regulamentar o que hoje acontece de forma aleatória e caótica foi rechaçada pelo Congresso na legislatura passada. O então deputado Emerson Kapaz foi o relator da comissão criada para elaborar a "Política Nacional de Resíduos Sólidos". Entre outros objetivos, o projeto apresentava propostas para a destinação inteligente dos resíduos, a redução do volume de lixo no Brasil, e definia regras claras para que produtores e comerciantes assumissem novas responsabilidades em relação aos resíduos que descartam na natureza, assumindo o ônus pela coleta e processamento de materiais que degradam o meio ambiente e a qualidade de vida.
O projeto elaborado pela comissão não chegou a ser votado. Não se sabe quando será. Sabe-se apenas que não está na pauta do Congresso. Omissão grave dos nossos parlamentares que não pode ser atribuída ao mero esquecimento. Há um lobby poderoso no Congresso trabalhando no sentido de esvaziar esse conjunto de propostas que atinge determinados setores da indústria e do comércio.
É preciso declarar guerra contra a plasticomania e se rebelar contra a ausência de uma legislação específica para a gestão dos resíduos sólidos. Há muitos interesses em jogo. Qual é o seu?

quarta-feira, 4 de abril de 2007

[Terminando o modelo do blog...]

Ando meio sumido porque estou fazendo umas alterações no modeo do Blog. Quando fiz, sempre com a ajuda do Pedro (blog http://mundoesportivo.blogspot.com), imaginei algo só com meu texto, fugindo um pouco do padrão dos blogs. Até pra ficar um visual mais limpo mesmo. Mas fica meio difícil... as partes "Links" e "Sobre" são bem necessárias.

E já que vou "sujar" o blog mesmo, coloquei a tal da barra lateral novamente... com ela, as partes "Anterior" e "Arquivo".

Bom, ainda está em construção. Falta tempo... mas aos pouquinhos, o resultado vai ficando legal. Já tenho alguns próximos textos, fora aqueles que surgem de improviso.

Um grande abraço e bom feriado à todos.

sexta-feira, 30 de março de 2007

[E se fossem bandidos?]

E se fossem bandidos? Será que a reação seria a mesma?
Não, não estou generalizando a classe. Mas o que os policiais fizeram com a passeata dos estudantes com relação ao passe livre foi covardia.
Segundo o RJTV, uma mulher tacou uma pedra e os policiais reagiram com bombas de efeito moral, cacetetes e balas de borracha.
Há o outro lado: com certeza alguns estavam ali não pra protestar, mas pela bagunça. E por causa deles uma maioria é prejudicada de maneira violenta. Uso completamente desproporcional da força. Com os guardas municipais e camelôs, idem. Quando será que tal postura será tomada com os reais responsáveis pela violência no Rio de Janeiro? Quantos mais precisam ser feridos, mortos, ou, como gostam de falar, mais um número nas cruéis estatísticas cariocas? Basta!