Funcionalidade! Hoje em dia tudo tem que ser funcional. Você tem que obter o máximo de resultado possível. Se isso fere a alguém? Não importa. O que importa é o tal resultado.
Acorda-se pra trabalhar, entra-se no ônibus para se dirigir ao centro da cidade. Entra um cara pra vender batata frita. O ônibus ta cheio, mas ta lá o cara 7:30 da manhã gritando querendo vender a tal da batata. Você passa pela Leopoldina e vê um mundo de outdoors. Compre isso que você ganha isso, compre aquilo e ganhe desconto naquilo, “A” é a melhor opção, “B” lava mais branco, “C” é a rádio mais ouvida... poluição no ar, poluição visual, poluição auditiva...
Chegando, você anda no centro da cidade do Rio de Janeiro. Experimenta contar quantas pessoas vão te dar um papelzinho, oferecendo serviços diversos, que vão desde casas de diversão masculina a de telefonia, passando por troca/compra/venda de metais preciosos.
Chato demais! Você tem a sua liberdade invadida. Se alguém te estende aquele papelzinho e você recusa, acaba sendo visto como mal-educado. “Ah, não custa nada pegar um papelzinho e jogar no lixo”... mas os caras praticamente te enfiam o papel goela a baixo... e o principal: sem se perguntar se você quer receber o papel ou não.
E fora que a grande maioria joga o famigerado no chão, visto a escassez de latas de lixo pelas ruas.
Tem também os que oferecem cartão. Você entra numa loja qualquer, seja pra comprar ou pra ver algo, e já vem o “Quer fazer o cartão?” Não! “Mas não tem anuidade, só precisa de identidade e CPF!” Não! Será que não posso recusar algo que eu não quero?
Isso quando não vem um desses carinhas oferecendo empréstimos bancários. Várias vezes eu os vejo abordando pessoas aparentemente mais humildes e convencendo-as a fazer o tal empréstimo. Talvez a pessoa em questão nem saiba dos riscos de fazer um; o quão você se atola em dívidas para pagar tal, mas enfim, é a tal funcionalidade. O cara é pago pra oferecer e convencer a aceitar.
Enfim, a cidade é emporcalhada, você é taxado de mal-humorado (como se no cidade do Rio de Janeiro não houvesse muitos motivos para já ficar) e tudo continua como está.
Na volta, o ônibus ainda mais cheio, engarrafamento bombando, calor fortíssimo e lá vem a batata de novo! O carinha altão e fortão quer deixar sua mochila confortável na sua frente, aos seus pés. Normal, se ele não estivesse em pé no ônibus, num corredor de no máximo 1m de largura onde por ali passarão várias pessoas a caminho da porta para descer do veículo.
E daí? E daí que ele fica lá, paradão e os outros que se virem pra passar. E quando não tem ninguém passando, ele vai te dar algumas cabeçadas, cotoveladas, porque você está logo atrás dele e ele quer ficar mais confortável. E qualquer olhada que vcê der pra trás ele vai te olhar com cara feia!
E o telemarketing? 9 hs da noite, você já tomou seu banho, e jantou. Hora de descansar? Não! Liga alguém querendo falar com meu pai. Já teve gente ligando 3, 4 vezes no mesmo dia, isso porque eu falei que meu pai tinha viajado. Detalhe: às vezes você nunca foi cliente da empresa, mas ela tem todos os seus dados pra contato.
Ok, passou o telemarketing, você vai entrar na internet pra ler uns e-mails, dar uma rodada no Orkut e relaxar. “Olá, você tem e-mail!”... não! É SPAM! E tome liberdade invadida! Foda-se se está incomodando, o que importa é atrair clientes. Ah, e adivinha sobre o que era o SPAM... batata?
Sejamos funcionais! Enquanto não sugarem tudo, o jogo continua!